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Sociologist by the University of Haifa, specialized in approaches for the gates of knowledge improving communication between Jews and non-Jews. This is an open way to communicate with Jews from Israel, USA, Canada, Europe or those who live in Latin American countries but do not speak Portuguese (in Brazil) or Spanish (all other countries besides Guianas)

O que pensa o Judaismo sobre Satan e os demônios - Haim Mendel.

O que pensa o Judaismo sobre Satan e os demônios

O que pensa o Judaismo sobre Satan e os demôniosEm textos anteriores afirmamos que o Judaísmo não acredita, na sua essência, em anjos (como seres humanoides que fazem coisas milagrosas), mas o Judaísmo afirma que os malachim (termo hebraico que é traduzido como anjos) são as forças ativas que ocorrem no Universo, como por exemplo a lei da gravidade. Entendido isso, falta agora explicar e provar que demônios também não fazem parte do pensamento judaico e que quando são citados é de forma alegórica para o entendimento dos que não estão familiarizados com a sabedoria da Torá (Bíblia judaica). Mas antes precisamos entender o sentido da palavra Satan, que literalmente significa inibidor/ evitador/ impossibilitador. Inibir quer dizer “tentar impedir alguém de realizar algo”. 

Disso aprendemos que foi D-us quem criou as diversas dificuldades, obstáculos da vida, os quais temos que enfrentar neste mundo, exatamente para nos conduzir à autossuperação e nos levar ao progresso. Satán é o responsável por tornar as coisas difíceis, por desafiar e assim colaborar para que tenhamos a chance de vencer a nós mesmos; para passarmos no teste da vida. A “tentação” existe dentro de nós, por intermédio dos dois instintos que D-us mesmo criou no homem, tanto o que o inclina ao bem como o que inclina ao mal. O mais importante é que somente esta habilidade de escolha absoluta torna possível que façamos o bem e o mal, com total e absoluta decisão pessoal. Temos a plena capacidade de recusar fazer o mal. Esta é a noção exata de que temos o direito de escolher tanto o bem como o mal. Portanto, para nos induzir a escolher o bem é que HaShem nos oferece o bem através do ciclo da bondade (se praticamos atos bondosos iremos obter bondade, se praticamos atos de maldade iremos ter a maldade). E para que mereçamos isso, é preciso que algo nos iniba, algo que tente nos impedir e que tenhamos que superar. 

Satán, portanto, é nossa inclinação ao mal (Ietzer hará). É a inclinação ao mal tentando nos impedir de fazer o bem, pois HaShem tem ordenado a ele fazer exatamente isso. Porque? Para nos garantir livre arbítrio. Para que nossa escolha pelo bem seja sempre voluntária e consciente. Cada um de nós, todos os dias luta contra o seu mau instinto. Todos temos várias tentações que se manifestam durante o dia nas mais diversas formas, como por exemplo enganar nos negócios, mentir com a intenção de prejudicar um terceiro...ou simplesmente dormir um pouco mais ao invés de levantar no horário combinado. Todas as ações que nos levam a fazer o contrário do que é bom e correto chamamos no judaísmo de Ietzer hará ou como é mais conhecido Satan. 

Assim, se conseguimos entender que Satan é uma ação negativa dentro de nós que nos impede...nos inibe a fazer a coisa certa, compreendemos então que não existe nenhum anjo que se rebelou contra D-us (o que é inaceitável para o Judaísmo). Vamos imaginar a seguinte situação: Se um anjo se rebelou contra D-us, ele provavelmente teria um instinto dentro de si que seria muito maior que ele, um satan do satan! Mas está muito claro que só seres humanos têm os dois instintos citados (Ietzer hará, inclinação para fazer o mal, e Ietzer tov, inclinação para fazer o bem), só seres humanos têm o mal instinto para tentá-los. Mas “anjos” não têm agentes que possam tentá-los... 

Afinal, quem seria o Satán do próprio Satán? Um ultra...mega...master Satán???   Caros leitores, seres humanos podem melhorar a si mesmos, e este é seu propósito no mundo. Os “anjos” não podem melhorar nem progredir, assim como os animais não progridem moralmente. Essa é a lógica da criação.  A essência do Ietzer hará é o “fervor do sangue”. E a arma do Ietzer hará é a imaginação, o devaneio. Mas o Ietzer hará por si mesmo não é mau, assim como a imaginação ou o devaneio não é mal por si mesmo. O que ocorre é que a pessoa que caracteriza as forças dentro de si, tornando-as boas ou más. 

Outro conceito importante é que somente o ser humano pode ser mau. Portanto, o Ietzer hará é a natureza humana voltada - pela própria pessoa - para o mal. Talvez agora ficará claro para o leitor entender as seguintes passagens das Escrituras Hebraicas, em que diz que o Altíssimo colocou no mundo tanto o bem como o mal, como está escrito em Devarim (Deuteronômio) 30:15.
“Vê que pus diante de ti hoje a vida e o bem, a morte; e o mal.”
E em Ieshaiáhu (Isaías) 45:7, o profeta descreve o plano da criação de D-us expressando assim:
“Eu formo a luz e crio a escuridão; Eu faço a paz e Sou Eu quem cria o mal; EU SOU o ETERNO que tudo faz.”
Agora sim está claro o texto, pois se D-us criou essas forças dentro de nós que lutam entre si para que nós possamos fazer as devidas escolhas, está evidente que se praticamos o mal, estamos criando o mal, e como somos criaturas de D-us, o profeta judeu está afirmando que D-us criou o mal. Mas se escolhemos de forma correta as nossas ações e elas são boas para nós e aos que vivem a nossa volta teremos o bem, e isso o profeta judeu também atribui a D-us...pois D-us criou o bem e o mal dentro de nós...de cada ser humano.

Se a pessoa analisar as escrituras hebraicas de forma mais criteriosa verá que não existe nenhuma ideia que justifique a crença em seres demoníacos. Por isso iremos analisar outro texto em Melahim 1 (I Reis) 11:23 ao 25: 
“D-us levantou contra Salomão ainda outro adversário (a palavra usada originalmente em hebraico é “Satán’), Rezom, filho de Eliadá, que tinha fugido de seu senhor Hadadézer, rei de Zobá. Pois ele ajuntara a si homens, e se fizera capitão de uma tropa, quando Davi matou os de Zebá; e, indo-se para Damasco, habitaram ali; e fizeram-no rei em Damasco. E foi adversário (a palavra satán é usada novamente aqui) de Israel por todos os dias de Salomão, e isto além do mal que Hadade fazia; detestava a Israel, e reinava sobre a Síria.”  
E temos ainda em Divrei HaIamim 1(I Crônicas) 21:1 

"Então Satán (inibidor/opositor) se levantou contra Israel e incitou David a recensear o povo de Israel”.

Como já sabemos que a palavra satan é uma referência aos nossos instintos mais difíceis de controlar, fica claro no verso acima que o Rei Davi fez algo que não deveria fazer naquele momento e o seu instinto falou mais alto que a sua racionalidade. Se entendermos que satan não existe como ser humanoide que tem vontade própria e sai por ai fazendo maldades e induzindo as pessoas ao pecado, ficará mais fácil para entender que demônios também não existem no conceito judaico e que toda maldade existente no mundo é em decorrência das ações que cada um de nós escolhemos para seguir. Ninguém nasce mal...mas se torna mal ao longo de sua vida por uma opção pessoal, eis a grande mensagem da Torá para as pessoas que buscam se aprimorar. Reflitam, caros amigos, que a melhor opção para a humanidade é a pratica do bem e não por interesses pessoais, mas porque é o melhor para a coletividade humana. Se nossas ações são pautadas na justiça e bondade para com o próximo iremos fazer desse mundo o nosso verdadeiro Paraíso. 

Desejo a todos uma ótima semana...Shalom!

* Hai Mendel, economista, da comunidade judaica de São Paulo
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